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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A Historia de Bruce Lee

"Ele tinha uma habilidade atlética incrível, adcionado a um equilíbrio, velocidade da mão, velocidade dos pés, coordenação fantástica de olho e mão, senso de oportunidade. Tudo isso comandado por uma vontade intensa e um instinto muito forte"




A China no final do século XIX estava sob agressiva exploração estrangeria. Muitos chineses migraram para os Estados Unidos à procura de trabalho e abrigo na California e em outros estados do Oeste. Mas, na América, eles foram vítimas de uma discriminação impiedosa por parte dos caucasianos, que viam nos pequenos e gentis trabalhadores uma fonte de mão de obra barata.

No cenário do entretenimento americano, o preconceito se repetia com os atores orientais relegados a pequenos papéis, interpretando personagens submissos. Caso, no roteiro original, o personagem oriental fosse importante, um ator americano era maquiando para parecer como tal.

No entanto, a partir do final dos anos 60, um jovem com muita determinação e talento mudou esse quadro e chegou a ser apontado em uma pesquisa da revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do século XX. Sempre valorizando a cultura chinesa, ele teve como princípio o proverbio chinês de usar um obstáculo como ponto de apoio. Ele foi Bruce Lee.

O Despertar de um Garoto

Bruce Lee nasceu Lee Jun Fan, no Jackson Street Hospital, no bairro de Chinatown, em São Francisco, nos Estados Unidos, em 27 de novembro de 1940 - ano do dragão, segundo o calendário chinês. Terceiro filho de Lee Hoi Chuen, um famoso comediante do teatro chinês e da descendente de alemães Grace Lee. Quando ele nasceu seus pais estavam na América do Norte, numa turnê da Companhia Cantonesa de Ópera.

Filho de artista, Lee debutou no cinema ainda nos Estados Unidos, no filme chinês "Golden Gate Girl", com apenas três semanas de vida. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, sob o nome de Lee Siu Lung, aos seis anos de idade, estreou como ator mirim em Hong Kong, com o filme "The Beginning of a Boy" (em tradução livre, do autor, "O Despertar de um Garoto"). O pequeno artista se tornou conhecido no circuito cinematográfico chinês. Aos 19 anos, Lee já havia aparecido em 20 filmes.

Em Hong Kong, Lee gozou de adolescência típica da elite chinesa. Era namorador, gostava de motocicletas e foi campeão de dança num campeonato de cha-cha-cha. Ainda garoto, envolveu-se em várias brigas de rua. Em 1953, Lee começou a se interessar pelas artes marciais. Primeiro, através de seu pai, um devoto do Tai Chi Chuan, mas seu principal mestre foi Yip Man, em wing shun, arte marcial cujas raízes vêm do templo Shaolin e enfatiza mais a leveza e a rapidez do que a força. Seu mestre em Kung Fu, Siu Hon Sung, relatou:"Em geral se demora quatro semanas para aprender os movimentos básicos. Lee só precisou de três noites"





Nos final dos transviados anos 50, Lee estava à beira de ser preso em virtude de suas constantes brigas de rua. Sua família, então, decidiu mandá-lo, em 1959, aos Estados Unidos, para a cidade natal de São Francisco, com 115 dólares no bolso e o endereço de um velho amigo de seu pai que lhe daria abrigo.

Após vários trabalhos esporádicos na comunidade chinesa de São Francisco, Lee, que adotou seu nome americano de Bruce, mudou-se para Seattle, atraído por um emprego fixo no restaurante de Rudy Chow, outro amigo de seu pai. Ele também passou a fazer um extra no jornal Seattle Times.

Em 1961, Bruce Lee ingressou na Universidade de Washington para se graduar em Filosofia e, paralelamente, dar aulas para americanos sobre as sutilezas do pensamento chinês No campus da Universidade, Bruce Lee começou a ensinar para os estudantes o Kung Fu, arte marcial ainda desconhecida nos Estados Unidos.

No verão de 1963, ele deixou o emprego no restaurante de Rudy Chow, e com a ajuda do amigo Taky Kimura, abriu o Jun Fan Kung Fu Institute, uma escola de arte marcial chinesa. Já conhecido como mestre pelos alunos, Bruce Lee escreveu e ilustrou o livro "Chinese Gung Fu - The Philosophical Art of Self Defense". Editada em 1963, a obra expôs o próprio método de Bruce Lee de lutar Kung Fu, que ele próprio descreveu como de natureza não clássica e que tem no âmago os princípios da econômia dos movimentos, simplicidade e retidão.

Em outubro de 1963, Bruce Lee começou o namoro com Linda Emery, sua aluna da academia, uma americana descendente de ingleses e suecos. Segundo Linda, sua família a princípio rejeitou a idéia dela namorar um oriental, mas depois todos se encantaram pelo seu namorado. Eles se casaram em 17 agosto de 1964 e se mudaram para Oakland, na Califórnia, onde Bruce Lee abriu sua segunda Jun Fan Kung Fu Institute

O fato de Bruce Lee possuir alunos multiraciais em suas academias causou indignação da tradicional comunidade chinesa ligada às artes marciais, que enviou um de seus lutadores para desafiá-lo formalmente. O acordo era que se Bruce Lee perdesse a luta, ele jamais voltaria a ensinar a milenar arte marcial chinesa para estrangeiros. Bruce Lee aceitou o desafio e venceu seu oponente em três minutos. Este combate o estimulou a intensificar seu treinamento em artes marciais, por achar que minutos são muito tempo para se vencer uma luta.

Apesar de sua dedicação às artes marciais, suas academias não lhe rendiam o reconhecimento devido. Mas a sorte de Bruce Lee mudou numa demonstração no Campeonato Internacional de Karatê organizado por Ed Parker, em Long Beach, California. A platéia se admirou com as demonstrações de suas técnicas como soco de uma polegada, onde seu punho, a uma distância de uma polegada do obstáculo, quando deferido impactava o alvo bruscamente, impulsionando-o dois metros para atrás. Outra demonstração que causou admiração foi a de um exercício de flexões sustentado apenas por dois dedos. Ed Parker ficou impressionado com o jovem rapaz de 1,70 m e 59 quilos: "Nunca tinha visto um lutador melhor. Sua auto-confiança, senso de humor, agilidade e velocidade faziam a diferença."

Jay Sebring, cabelereiro de Hollywood, ao ver a performance de Bruce Lee no Campeonato de Ed Parker, o indicou para o produtor William Dozier, que procurava um ator para interpretar nas telas o filho do detetive chinês Charlie Chan. Mas o projeto foi adiado, pois William Dozier priorizou produzir a série de televisão "Batman".

Em primeiro de fevereiro de 1965, nasceu o primeiro filho do casal, Brandon. Oito dias após o nascimento, o pai de Bruce Lee faleceu em Hong Kong. Ele voou para o funeral e retornou à América decidido a vencer e mostrar para família sua genialidade. Em 1966, Bruce, Linda e o bebê se mudaram para Los Angeles, visando as oportunidades que Hollywood poderia oferecer.





Hollywood

Com a assistência de Dan Inosanto, Bruce Lee abriu o terceiro Jun Fan Kung Fu Institute no bairro de Chinatown. William Dozier, após o estrondoso êxito de "Batman", procurou Bruce Lee para estrelar uma outra série de TV baseada em um programa de rádio dos anos 30, "The Green Hornet" ("O Besouro Verde"). Bruce Lee interpretou o coadjuvante Kato e o personagem principal foi interpretado pelo ator Van Williams.

Contratado pela 20th Century Fox, Bruce Lee, esposa e filho se mudaram para um apartamento no elegante Wilshire Boulevard, em Westwood e compraram um carro esporte, da marca Chevy Nova. O ator Burt Ward, que na época estava fazendo um grande sucesso como Robin, na série "Batman" era seu vizinho no novo endereço em Los Angeles: "Bruce e eu sempre treinávamos e muitas vezes saíamos com nossas famílias para jantar fora e ele sempre insistia em pagar a conta. Era uma pessoa adorável." Relatou o intérprete do "Menino Prodígio"



Em 09 de setembro de 1966, estreou na ABC TV o seriado policial "O Besouro Verde". O personagem de Bruce Lee foi crescendo junto ao público, impressionado com a rapidez de seus golpes marciais, exibidos no horário nobre da TV americana. O que os fãs, que enchiam a caixa postal da emissora com suas corespondências para "Kato", não sabiam era que Bruce Lee teve que reduzir a velocidade de seus golpes para que as câmeras os captassem com melhor nitidez. Mesmo interpretanto um papel secundário, Bruce Lee não aceitou fazer mesuras ou deferências com seu personagem, nada que degradasse a cultura chinesa. Mas, para sua frustração, após 26 episódios, a série foi cancelada em julho de 1967.

Depois de "O Besouro Verde", Bruce Lee ficou conhecido nas esferas hollywoodianas e começou a dar aulas de artes marciais para os maiores atores da época, como Steve McQueen, James Coburn, Elke Sommer, Lee Marvin, Sharon Tate e os diretores Roman Polanski e Blake Edwards. Bruce Lee havia criado sua própria maneira de lutar, a qual batizou de Jeet Kune Do, nome que, em cantonês, significa uma forma de interceptar punhos. O Jeet Kune Do era uma compilação eclética de muitos tipos diferentes de luta.

Enquanto ensinava seu Jeet Kune Do para estrelas de cinema, Bruce Lee também voltou a se apresentar nos torneios de lutas marciais em Long Beach, Washington DC, Miami e Nova York. Neste periodo ele também fez algumas participações em outros seriados de TV como "Batman" (1967), "Ironside" (1967), "Blondie" (1968) e "Here Cames The Brides" (1969). Mas o que ele queria era o grande estrelato.

Em 19 de abril de 1969, nasceu sua filha Shannon, exatos três meses antes de sua estréia no cinema americano, como consultor de Karatê em "The Wrecking Crew" ("Arma Secreta contra Matt Helm") estrelado por Dean Martin. No mesmo ano Bruce Lee foi contratado para fazer um pequeno papel de vilão no longa-metragem em "Marlowe", ("Detetive Marlowe em Ação"), com James Garner. Apesar de sua rápida aparição em "Detetive Marlowe em Ação", Bruce Lee participou da turnê de lançamento do filme, onde foi a principal atração ao exibir, ao vivo, os golpes deferidos por ele no longa-metragem.

Inspirado com sua estréia na tela grande, Bruce Lee, junto com o ator James Coburn e o roteirista Stirling Silliphant, ganhador do Oscar em 1967 por "In The Heat of The Night" ("No Calor da Noite"), escreveu o roteiro para um filme chamado "The Silent Flute" ("A Flauta Silenciosa"). A história (quase autobiografica) era sobre o processo de autodescoberta de um jovem ator de artes marciais. Bruce Lee chegou a ir à Índia, Paquistão e Nepal para sondar locações para o filme, mas as negociações com a Warner Brothers. não se consumaram e o roteiro adiado.



O Tao do Jeet Kune Do
"Não usando caminho algum como caminho. 
Não tendo limitação alguma como limitação"



Em 1970, o jornal Washington Sports publicou: "Os três alunos de Bruce Lee, Joe Lewis, Chuck Norris e Mike Stone, já venceram os maiores torneios de Karatê dos Estados Unidos. Bruce Lee trata e instrui esses rapazes quase como um pai trata uma criancinha. O que é desconcertante de se ver." Mesmo no ápice de sua reputação como mestre, Bruce Lee fechou todas as suas três academias. Ele decidiu parar de dar aulas para celebridades e levar sua arte para o cinema a fim de criar um novo gênero de filme que revelasse o real próposito das artes marciais.

Bruce Lee mantinha uma rígida disciplina em relação aos exercícios físicos, alimentação saudável, além de ser um leitor voraz. Apesar de todo seu conhecimento, em 30 de agosto de 1970, em virtude de um aquecimento mal feito, ao levantar pesos ele torceu seriamente o quarto nervo sacral das costas e foi obrigado a permanecer seis meses sem treinar. Os médicos disseram que ele jamais poderia voltar a lutar.

A época foi difícil para Bruce Lee. Suas economias estavam no fim e ele foi obrigado a ficar em casa deitado numa cama. Sem desperdiçar tempo, enquanto estava imobilizado, ele iniciou uma grande pesquisa sobre artes marciais. Bruce Lee leu sobre Filosofia, Antropologia, Pisicologia e livros de Alan Watts, Jiddu Krishnamurti e Buda. Esses estudos associados à sua experiência com as artes marciais se transformaram em um ensaio de sete volumes escritos por ele sobre técnicas de treinamento e a filosofia do Jeet Kune Do, publicado cinco anos depois, com o título "O Tao do Jeet Kune Do". O livro se tornou um grande best-seller sendo editado até hoje em todo mundo.

Assim que pôde, Bruce Lee voltou a treinar e intensificou seus exercícios para readquirir sua boa forma. Diariamente, ele dava dois mil socos, mil chutes, corria cinco quilometros e pedalava 24 quilometros. Após sua recuperação, Bruce Lee conseguiu a proeza de estar em melhor forma que antes.

No início de 1971, Bruce Lee foi contratado pela Paramount Pictures para atuar no episódio de estréia da série de TV "Longstreet", estrelada por James Franciscus. O primeiro episódio "O Caminho para Interceptar o Punho" (tradução de Jeet Kune Do) bateu nas telinhas americanas com muito sucesso e Bruce Lee participou de mais três episódios da série. Mesmo assim, os estúdios americanos continuavam a lhe oferecer papéis de coadjuvante nos filmes, certamente por preconceito racial.

Bruce Lee nunca se conformou com esta postura da indústria cinematografica. Ele queria se impor como um ator marcial chinês e quebrar a tradição ocidental de só oferecer aos "amarelos" papéis menores.



Bruce Lee foi a Hong Kong para visitar a família e foi surpreendido com sua popularidade lá, pois a série "O Besouro Verde" ficou famosa na outra costa do pacífico como "O Show de Kato". Enquanto permaneceu em Hong Kong, Bruce Lee e seu filho Brandon fizeram apresentações nos programas de TV chineses "Enjoy Yourself Tonight" e o beneficente "Telethon 71". Bruce Lee impresionou os espectadores ao quebrar uma tábua no ar com um chute.

Seu alto índice de audência logo rendeu uma proposta de Run Run Shaw, maganata das telecomunicações chinesas, para um contrato de 200 dólares por semana durante sete anos. Bruce Lee recusou a oferta e retornou para os Estados Unidos, onde ele estava em negociações com a Warner para estrelar, como astro principal, no telefilme "Kung Fu" que seria piloto para uma série de TV. Bruce Lee idealizou a série junto aos executivos da Warner, contudo, sem maiores explicações foi excluído do projeto, sendo preterido pelo ator americano David Carradine, que foi maquiado para parecer chinês. Na ocasião, o amigo e ator James Coburn lhe aconselhou: "A TV esmaga e engole gênios. Em uma temporada você esgotaria seu manancial. Fixe suas vistas em Hong Kong.".

Frustado com a indústria cinematográfica americana, Bruce Lee decidiu então aproveitar sua fama em Hong Kong e tentar se estabelecer no Oriente como ator marcial e depois voltar para os Estados Unidos, com o aval de ser um astro. Com isso, Bruce Lee, depois de dez anos na América, voltou à Ásia.



O voo do Dragão

Bruce Lee aceitou uma proposta da Golden Harvest, uma recém fundada produtora do veterano cineasta chinês Raymond Chow. Por um cachê de dez mil dólares, Bruce Lee foi à Tailândia para trabalhar no longa metragem "The Big Boss" ("O Dragão Chinês") dirigido pelo experiente Lo Wei. A princípio, ele teve um papel secundário no filme, mas após a filmagem da primeira cena de luta, os produtores perceberam o impacto que Bruce Lee faria nas telas e o tornaram astro do longa-metragem. Bruce Lee, então, começou a implementar sua próprias idéias e se envolveu em todos os aspectos da produção.

"O Dragão Chinês" estreou em outubro de 1971 e deixou o público atônito com a rapidez e a leveza dos golpes de Bruce Lee, que no filme tentava salvar os primos da ganância de um traficante de drogas, proprietário de uma fábrica de gelo. "O Dragão Chinês" bateu todos os recordes de bilheteria e transformou Bruce Lee num superstar. A crítica classificou "O Dragão Chinês" como o início de um movimento realista nos filmes de ação orientais, antes dominados pelo estilo capa e espada e com cenas inverossímeis.

Após o lançamento do filme, em dezembro de 1971, numa entrevista para o programa da televisão canadense "The Pierre Berton Show", um articulado e simpático Bruce Lee mostrou-se mais que um fenômeno de bilheteria:"Eu espero que o filme que eu faço expresse o porquê da violência cometida, seja certo ou errado. Mas infelizmente, a maioria dos filmes são feitos só pela violência" Questionado sobre o preconceito que sofreu dos estúdios americanos, ele foi diplomatico: "Infelizmente essas coisas existem no mundo. Eles acham que comercialmente é um risco. Eu não os culpo. Assim como em Hong Kong, se viesse um estrangeiro e se tornasse um astro, se eu fosse o homem do dinheiro, eu talvez me preocupasse se ele seria ou não aceito." E concluiu: "É fácil ser arrogante, se achar o máximo ou apenas mostrar movimentos elegantes. A Arte marcial é expressar-se com honestidade, que é muito difícil. Mas sem forma definida. Como a água. Seja água, meu amigo!"

Empolgado com o tremendo sucesso de "O Dragão Chinês", Raymond Chow produziu, com orçamento maior, o segundo longa-metragem "Fist of Fury" ("A Fúria do Dragão"), também dirigido por Lo Wei. O enredo de "A Fúria do Dragão" se passa na cidade de Xangai, em 1908, invadida pelos japoneses. O personagem de Bruce Lee é o protótipo do héroi chinês, derrotando os japoneses em fantásticos combates marciais, para vingar o assassinato de seu mestre. Com uma liberdade criativa cada vez maior, Bruce Lee apresentou uma nova arma no cinema: o nunchaku, dois bastões ligados por uma corrente. Mas também irritou a produção do filme com seu perfeccionismo e uma concepção artística muito diferentes dos padrões asiáticos. Lançado em março de 1972, "A Fúria do Dragão" obteve sucesso ainda maior que seu primeiro filme.

A essa altura, Bruce Lee já tinha um fã-clube mundial. Ele era o ator chinês mais popular no mundo. A exibição de seus filmes causava muito alvoroço e gerava enormes engarrafamentos próximos às salas de cinema. A crítica o descrevia como gênio das artes marciais e o "Rei do Kung Fu". Especulva-se um "combate do século" entre Bruce Lee e Muhamed Ali, campeão de boxe muito admirado por Bruce Lee. Lutadores faixa preta e experts em artes marciais viam a arte de Bruce Lee como revolucionária e seu talento como de outro mundo. "Imagine andar nas ruas com Elvis Presley. Era assim com Bruce em Hong Kong " , disse o ator marcial Bob Wall. Esta extraordinária fama trouxe problemas a Bruce Lee, que era constantemente desafiado para lutar tanto através da mídia quanto nas ruas de Hong Kong. Além dos rumores sobre seus envolvimentos amorosos com jovens atrizes chinesas.

Com o aval de ser um fenômeno de bilheteria, Bruce Lee passou a receber lucrativas propostas de vários produtores asiáticos e europeus. O produtor italiano Carlo Ponti foi um dos interessados. Mas Bruce Lee mostrou-se leal a Raymund Chow e estabeleceu uma parceria igualitária, abrindo sua própria produtora, a Concord. Seu primeiro trabalho como produtor foi minuciosamente projetado. Bruce Lee escreceu e dirigiu "Way of The Dragon" ("O Vôo do Dragão"). Também coreografou todas as cenas de luta, supervisionou o figurino, as dublagens, a edição e chegou até a tocar um instrumento de percussão durante as gravações da trilha sonora.

"O Vôo do Dragão" foi co-estrelado pela atriz Nora Miao, que já havia atuado nos dois filmes anteriores com Bruce Lee. O filme ainda contava com as participações de Whong In Sik, mestre coreano em Tae Kwon Do, e os americanos Bob Wall e Chuck Norris. O filme foi rodado na Itália e Bruce Lee interpretou um lutador que vai a Roma ajudar a família, que possui um restaurante chinês e está sendo estorquida pela máfia. A cena final do combate entre Bruce Lee e Chuck Norris, no Coliseu, foi um dos pontos altos do filme. "O Vôo do Dragão", lançado no final de 1972, foi aclamado pela crítica e obteve um sucesso de bilheteria maior que seus dois filmes anteriores juntos.

Bruce Lee estava rico e famoso, morando com a família numa confortável mansão de onze quartos no nobre endereço 41 Cumberland Road, no bairro de Kowloon Tong. A casa possuía uma magnífica biblioteca com dois mil livros, salão de ginástica e um jardim com um lago em estílo japonês. Na garagem, um Mercedes Sport 350 SL e um Rolls Royce dourado. Bruce Lee, em suas horas de folga, curtia roupas de grife e carros possantes. Mas ele nunca parou de trabalhar e praticar Kung Fu. Bruce Lee treinava cerca de oito horas por dia. O ator Chuck Norris assim o descreveu: "Nunca conheci ninguém tão dedicado ao treino." Bruce Lee aproveitava cada minuto como se previsse que sua vida seria curta.



Operação Dragão

Logo após o fim das filmagens de "O Vôo do Dragão", em agosto de 1972, Bruce Lee começou a rodar seu quarto filme "Game of Death" ("O Jogo da Morte"). No filme ele mostraria a filosofia do Jeet Kune Do. Bruce Lee escreveu doze páginas do roteiro de "O Jogo da Morte", onde ele seria um campeão aposentado e invicto procurado por uma gangue coreana para participar de uma invasão a um templo de cinco andares, em cujo último pavimento havia um valioso tesouro. Seu personagem recusa, mas a gangue seqüestra seus irmãos mais novos, deixando-o sem opção. Em cada andar do pagode existia um lutador de determinado estilo. Bruce Lee lutaria Jeet Kune Do e, para enfatizar seu lado iconoclasta, em vez de trajar um quimono tradicional para seu figurino no filme, ele usaria um macacão de malha amarelo.

Bruce Lee chamou cinco amigos para filmar, um de cada estílo. Danny Inosanto (Kempô), Taky Kimura (Kung Fu tradicional), Tse Hong Joy (Hapkido). Whong In Sik (Tae Kwon Do) e o campeão de basquete americano e seu ex-aluno, Kareem Abdul-Jabbar, que ficaria no último andar do pagode e atuaria como um lutador de estilo misterioso. O cenário seria o templo de Pyochungsa, na Coréia do Sul, onde existe uma estatua de Buda de 33 metros.

Bruce Lee começou a trabalhar obsessivamente em "O Jogo da Morte", onde chegou a passar quatro dias filmando uma seqüência de apenas cinco minutos. Ele mais uma vez assumiu a tarefa de sete pessoas na criação do filme. Bruce Lee produziu, dirigiu, escreveu, desenhou cada cena, coreografou, sugeriu idéias para iluminação e para direção de fotografia, além de ser o astro principal. Após ter filmado 100 minutos, em outubro de 1972, ele interrompeu a produção de "O Jogo da Morte" em virtude de uma tão esperada chamada de Hollywood, para um projeto de longa-metragem.

Bruce Lee e Raymmond Chow voam para Los Angeles, em novembro de 1972, para finalizar as negociações com a Warner Brothers sobre "Enter The Dragon" ("Operação Dragão"). O produtor Fred Weintraub apresentou para Bruce Lee um projeto com grande orçamento. Para direcão do longa metragem, estava escalado Robert Clouse, especializado em filmes de ação, e a trilha sonora seria composta por Lalo Schfrin, que se consagrou com as partituras de "Missão Impossível", "Bullitt" e "Dirty Harry" ("Perseguidor Implacável"). Como coadjuvantes estavam os populares atores americanos John Saxon e Ahna Capri, além da participação dos campeões de Karatê Jim Kelly e Bob Wall. No roteiro, Bruce Lee interpretaria um agente secreto que participa de um torneio de artes marciais a fim de desbaratar uma quadrilha criminosa.

Bruce Lee negociou com a Warner a participacão dele e de Raymond Chow, como co-produtores do filme, além de sua surpevisão em todos os aspectos da produção e pós-produção e nas coreografias das cenas de luta. Ele também indicou os mais cotados atores chineses na época, como Shih Kien e Angela Mao, além das filmagens serem em Hong Kong, programadas para janeiro de 1973. Seria a primeira vez em que um estúdio chinês e um americano dividiriam um filme.

"Operacão Dragão" estava agendado para estrear na próspera temporada de verão nos Estados Unidos, numa grande campanha publicitária, com presença de Bruce Lee em vários programas de entrevistas americanos como "The Tonight Show", de Johnny Carson. O filme seria finalmente a volta triunfal de Bruce Lee ao mercado norte-americano de cinema. Ele inclusive planejava voltar a morar nos Estados Unidos, após o lancamento de "Operação Dragão", e trabalhou de forma obstinada no filme.

Findas as filmagens de "Operação Dragão", em abril de 1973, Bruce Lee começou a dar conferências, entrevistas, receber homenagens e discutir roteiros e propostas milionárias vindas de todas as partes do mundo. Em 10 de maio, ele estava no estúdio de dublagem e teve um colapso, sendo conduzido ao hospital com febre e convulsões. Bruce Lee foi a Los Angeles para uma bateria de exames e o diagnóstico foi um edema cerebral, sem maiores conseqüências. Os médicos ainda exaltaram sua excelente condição física. Enquanto ficou hospedado no Bervely Hills Hotel, Bruce Lee recebeu alguns amigos que perceberam o quanto ele estava magro e demonstrando muita ansiedade. Sua esposa, na biografia "Bruce Lee: The Man I Only Knew" ("Bruce Lee: O Homem Que Só Eu Conheci") narrou: "Eu ainda tentei convencê-lo a reduzir seu ritmo de trabalho, mas ele me interrompia."



O Jogo da Morte

Bruce Lee retornou a Hong Kong e voltou ao frenético rítmo de trabalho. Cheio de planos e idéias, ele agendou outra ida à Los Angeles em 06 de agosto para a estréia de "Operação Dragão" e programou para 20 de setembro a volta das filmagens de "O Jogo da Morte".

Na manhã do dia 20 de julho de 1973, Bruce Lee teve uma reunião de negócios, em casa, com seu advogado. Mais tarde ele recebeu seu sócio Raymond Chow, para discutirem sobre a produção de "O Jogo da Morte" e marcaram um jantar com o ator australiano e ex-007, George Lazemby, que eles pretendiam contratar para atuar no longa-metragem. Bruce Lee se despediu de Linda e das crianças e foi até o apartamento da sensual atriz chinesa Betty Ting-Pei, também escalada para o filme, a fim de estudarem o roteiro de "O Jogo da Morte". Segundo Betty Ting-Pei, ao anoitecer, Bruce Lee se queixou de uma dor de cabeça, pediu um analgésico e foi dormir. Quando ela tentou acordá-lo para o compromisso, não sentiu nenhuma reação e chamou um médico. Bruce Lee foi conduzido às pressas para o Queen Elizabeth Hospital, onde foi encaminhado a uma UTI. Depois de várias tentivas de ressuscitação, Bruce Lee faleceu, aos 32 anos.

Naquela mesma noite, ao ser informada da morte súbita de Bruce Lee, a imprensa de Hong Kong ficou em polvorosa. O fato de Bruce Lee ter falecido no apartamento de uma atriz sexy, aliado aos primeiros resultados da autópsia, que confirmou haver vestígios de haxixe em seu estômago, ajudou a gerar várias especulações sobre sua morte. Overdose, envenenamento, suicídio, vítima de um golpe letal, assassinato, amaldiçoamento, crime passional, especulações das mais sensacionalistas varreram o mundo.

O laudo oficial, porém, declarou que a causa mortis de Bruce Lee foi um caso raro de hipersensibilidade por medicação incorreta, causando um edema cerebral que o levou à morte. Segundo o laudo, o haxixe nada teve a ver com seu falecimento e sim uma alergia ao analgésico Equagesic. Conclusão final: morte acidental. Mas até hoje um clima de mistério envolve o desaparecimento prematuro de Bruce Lee. Como um homem com uma forma física perfeita poderia ter morrido tão jovem? Esta pergunta se cristalizou em todo o mundo.

A família preparou duas cerimônias para Bruce Lee. Em Hong Kong, 25 mil pessoas compareceram ao funeral, para prestarem a última homenagem ao ídolo. Em Seattle, onde ele foi sepultado, houve uma cerimônia privada, no Lake View Cemetery, com a presença de familiares e amigos, como os atores Steve MacQueen e James Coburn, o diretor Robert Clouse e os lutadores Danny Inosanto, Taky Kimura e Jim Kelly.

"Operação Dragão" foi lançado três semanas depois da morte de Bruce Lee e se tornou uma das maiores bilheterias de 1973. Até hoje, o filme já arrecadou mais de 200 milhões de dólares.



O Legado

Os filmes de artes marciais tornaram-se moda em meados dos anos 70. Tanto que a canção "Kung Fu Fighting", na voz de Carl Douglas, uma homenagem a Bruce Lee, foi o disco mais vendido de 1974. Vários imitadores de Bruce Lee apareceram para tentar substituí-lo, mas com duração efêmera. Aproveitando a febre Bruce Lee, em 1974, a 20th Century Fox, reuniu três episódios da série de TV "O Besouro Verde" e os editou em um longa-metragem com o título "Kato and The Green Hornet" ("Bruce Lee em Kato").

O filme em que Bruce Lee estava trabalhando quando morreu, "O Jogo da Morte", foi terminado em 1978, numa super-produção dirigida por Robert Clouse e co-estrelado pelos veteranos atores Dean Jagger, Hugh O'Brian, Gig Young e a sensual atriz Collen Camp. "O Jogo da Morte" teve o roteiro muito diferente do original escrito por Bruce Lee. O filme aproveitou algumas cenas de filmes anteriores de Bruce Lee e apenas onze minutos e sete segundos dos originais filmados de agosto a outubro de 1972. Mesmo assim, "O Jogo da Morte" foi um tremendo sucesso financeiro.

Em virtude da grande bilheteria, em 1981, foi lançado a continuação em "Game of Death II" ("Jogo da Morte II"). Apesar de ter sido anunciado como um filme de Bruce Lee, seu personagem é assassinado no começo do filme e lembrado em flash back. Cenas de Bruce Lee, desde seus filmes como astro mirim até sua cinematografia no iníco do anos 70, foram adcionadas ao enrredo de "Jogo da Morte II". O filme teve críticas negativas.

O roteiro de "A Flauta Silenciosa", escrito por Bruce Lee, em 1969, foi lançado, em janeiro de 1979 com o título de "Circle Of Iron". O roteiro foi finalizado por Stanley Mann, indicado ao Oscar, em 1965 pelo filme "The Collector" ("O Colecionador"). "Circle of Iron" teve uma produção cuidadosa e foi bem aceito pela crítica especializada. No elenco, estrelas como Roddy McDowall, Eli Wallach, Christpher Lee e, ironicamente, como astro principal o ator David Carradine.

Vinte anos após a morte de Bruce Lee, Hollywood o homenageou com o filme-biografia "Dragon - The Bruce Lee Story" ("Dragão - A História de Bruce Lee" ), baseado no livro de Linda Lee e estrelado por Jason Scott Lee (sem parentesco), como Bruce Lee e Lauren Holly no papel de Linda. O filme foi um sucesso de bilheteria e indicado ao MTV Movie Award. Ainda em 1993, Bruce Lee ganhou uma estrela na Calçada da Fama, em Hollywood com as presenças de Linda e Shannon Lee e o ator Jean Cloude Van Damme na cerimônia.

Em 1994, numa pesquisa para uma série de livros baseada nos escritos originais de Bruce Lee, foram descobertas suas anotações sobre o roteiro e a coreografia de "O Jogo da Morte". No roteiro de doze páginas havia referências de cenas inéditas que seriam usadas no filme. Após seis anos de procura foi encontrado o filme com o material. Mais de um quarto de século depois, as imagens e o roteiro original de "O Jogo da Morte" foram unidas novamente como Bruce Lee as imaginou e lançadas como tema do documentário "Bruce Lee: A Warrior's Journey" ("Bruce Lee A Jornada de um Guerreiro") com direção de John Little, em 2000.

Em 2005, em comemoracão ao seu 65º aniversário, uma estatua em bronze de Bruce Lee foi erguida em Hong Kong.

Como uma homenagem nacionalista a Bruce Lee, artísta que fez com que as pessoas conhececem um pouco da China, durante as Olimpíadas de 2008, foi lançado "The Legend of Bruce Lee". A mini-série com 50 capitulos foi realizada com grande investimento da rede estatal chinesa CCTV e com produção executiva de Shannon Lee. No mesmo ano, a casa em que Bruce Lee morou em Hong Kong foi vendida por 13 milhões de dólares e a renda revertida para as vítimas do terremoto na região chinesa de Sichuan. O novo proprietário da casa tem planos de transformá-la em um museu de Bruce Lee.

Depois da tragédia, em 1975, Linda, Brandon e Shannon Lee voltaram para a América, fixando residência em Los Angeles. Os filhos de Bruce Lee também seguiram a carreira artística. Brandon, o principal pupilo do pai, se tornou um ator marcial de sucesso. No dia em que completou vinte e um anos, Brandon estreou seu primeiro filme "Kung Fu: The Movie". Em 31 de março de 1993, quando trabalhava em seu sétimo longa-metragem, "The Crow" ("O Corvo"), Brandon foi vítima de um acidente nas filmagens provocado pelo disparo de uma arma de festim, indevidamente checada. Como seu pai em "O Jogo da Morte", "O Corvo" foi concluído com a ajuda de dublês. Estas desafortunadas coincidências entre as mortes prematuras de pai e filho reacenderam a polêmica sobre uma maldição.

Shannon Lee é também uma atriz marcial, tendo trabalhado em diversos seriados de TV como "Martial Law". Ela também é cantora e preside a Fundação Bruce Lee. Atualmente, Shannon Lee vive na California, é casada e mãe de Wren, única neta de Bruce Lee.

Linda Lee se casou em 1991, com o investidor Bruce Cadwell. Junto com sua filha, ela trabalha na Fundação Bruce Lee.

Segundo o cineasta Blake Edwards: "Se atualmente vemos artes marciais em filmes, devemos a Bruce Lee" Sua influência é percebida e reverenciada no trabalho de cineastas como Quentin Tarantino ("Kill Bill"), Ang Lee ("O Tigre e o Dragão"), Luc Besson ("O Quinto Elemento") e os irmãos Larry e Andy Wachowski ("Matrix").

O "tranquilo e infalível"* Bruce Lee, ainda é cultuado por fãs em todo o mundo. Até hoje vendem-se milhões de álbuns, posters, bottons e vários souvenirs. Seus filmes estão todos em catálogo, assim como várias publicações que nunca se esgotam. A trajetória de Bruce Lee, que manteve a integridade de sua arte assim como sua empatia que ultrapassou as barreiras culturais, o fizeram insubstituível. O mito continua.


Um comentário:

  1. Parabéns Wellington! Uma bela homenagem ao mestre!
    Ficou muito boa! Grande abraço!

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